Prof responsável - Mazé Zanquetta
Alvitres de vivência
Com
o nascer do sol e o cantar do bem-te-vi, abrindo as pequenas pupilas numa cama
de tarimba com colcha de capim surgia meu novo dia, num cantinho isolado, num
sítio abençoado, em Nova Andradina, Mato
Grosso do Sul. O galo cacarejava e eu tomava um singelo e adocicado café com
leite feito por mamãe que acordava tão serena todas as manhãs.
Depois
da primeira refeição matinal, juntava forças, renovava os ânimos, ia para a
roça. Lembro-me vagamente de uma imensidão verde onde eu trabalhava com afinco,
de sol a sol para cultivar a plantação daquele lugarejo.
Ao
meio dia, sentava embaixo de uma frondosa árvore, suas folhas pareciam me
abanar para refrescar o calor do dia. Minha refeição era composta de feijão
preto, arroz e mandioca, tudo fruto do nosso trabalho. Assim que terminava a
refeição, meio sem jeito, fazia minha sesta de aproximadamente trinta minutos
que mais parecia um intervalo tão miúdo quanto de fato era.
Não
tinha regalias, fora minha cama dura e desconfortável feita com quatro
forquilhas para espreguiçar o meu corpo. O fogão era uma fornalha, onde sempre
era feito uma deliciosa galinhada e da banha fazia o hidratante que eu na época
usava e mesmo assim era feliz. Não era preciso muita coisa para me sentir bem.
Muito
perto dali havia um canavial que às vezes papai cortava algumas canas e fazia
garapa, um caldo verde, de sabor muito peculiar.
Quando
o pôr do sol chegava, eu entrava na minha humilde casinha, que hoje seria
chamada de casebre, tamanha modéstia e tão pequenina que era. Para ter uma
ideia, o mictório, assim chamado na época, não compunha minha moradia. Tinha
que caminhar uns cinco passos e lá estava eu, dentro de uma casinha tão
minúscula, que mais parecia uma despensa muito mal feita diga-se por sinal, mas
mesmo assim não desejava outra vida. Para não ficar na escuridão, meus pais
acendiam a lamparina e deixavam até o
amanhecer.
Durante
a infância, mamãe fazia bonecas de pano com os retalhos que sobravam das
costureiras e era minha maior diversão, pareciam dar mais vida em casa. As
panelinhas que brincava eram feitas de latinhas de sardinhas e que cuidava com
carinho.
Na
adolescência, lembro-me com saudades dos bailinhos que os vizinhos faziam para
juntar as famílias, pois não havia muita coisa na época para nos divertir.
Tomava banho, punha a melhor roupa, porém simples e ia muito asseada para
dançar no chão de barro batido. Os rapazes me convidavam pra dançar e eu meio
sem jeito aceitava, mas sem que percebessem minha timidez. Quando chegava em casa,
percebia que tinha que me banhar
novamente, pois de tanto dançar, os pés voltavam imundos.
Estudar
então era raridade, podia-se dizer que era luxo pra mim, já que precisava mais
trabalhar para ajudar no sustento da família que outra coisa, porém eu sempre
gostei e era necessário. Mas recordo-me ainda que as pessoas comentavam que os
estudos eram meio precários, que era a base de ler e escrever apenas.
As
lembranças são muitas, mas não apago da memória quando ganhei meu primeiro
sapato. Sapato preto e de verniz, para a ocasião muito chique, considerando que
até aquele momento só tinha usado alpargatas de lona com cordas nas laterais
que comprava de um viajante.
A
vida seguia, mas o destino transformou o ritmo da família e dentre muitas
recordações, ficou no meu coração a mais triste e severa, a morte de meu pai.
Daí em diante, minha mãe viveu dias difíceis, mas continuou dando forças para
que eu tivesse um futuro bom e promissor.
Ela nunca desistiu de viver, pois sabia que mesmo com tantas dificuldades,
seria uma pessoa feliz.
Bárbara Vitória
Gregório do Nascimento Pereira
Nenhum comentário:
Postar um comentário